Ficha de Leitura nº 1
Unidade de Ensino: Reprodução e manipulação da fertilidade
Conteúdo/assunto: A criptorquídia
pode afetar a fertilidade masculina
Resumo: A não descida dos testículos, durante a gravidez, ou criptorquidia,
pode afectar a fertilidade, abrir caminho a um cancro. A cirurgia torna-se
imprescindível para resolver o problema e deve até aos dois anos de idade.
Fonte: Farmácia Saúde, Junho de
2008
É o que
acontece quando, durante a gravidez, um dos testículos (ou ambos) permanece
recolhido no abdómen. Uma situação que pode afetar a fertilidade, abrir caminho
a um cancro e que se ultrapassa com cirurgia.
Chama-se
criptorquidia a esta condição que, naturalmente, só afeta os bebés do sexo
masculino: a não descida de um ou ambos os testículos é mais comum nos
prematuros, estando presente em cerca de 30 por cento dos casos, mas também
ocorre nos nascidos de termo, embora com uma incidência menor, próxima dos três
por cento.
Os testículos -
órgãos que produzem os espermatozóides e sintetizam a testosterona, hormona
sexual masculina - formam-se no abdómen e só pelo sétimo ou oitavo mês iniciam
a sua migração descendente para o escroto, a bolsa onde ficam alojados.
Contudo, nalguns bebés essa descida não acontece, permanecendo os testículos na
região inferior do abdómen, ou é interrompida, situação em que ficam presos no
canal inguinal. Seja como for, não alcançam o escroto.
Não se sabe exactamente a razão desta
descida falhada que, normalmente, é detetada nos primeiros exames a que o bebé
é submetido após o nascimento. O pediatra consegue sentir se os dois testículos
estão alojados no escroto ou se falta algum, o que desencadeia testes
posteriores no sentido de o localizar no abdómen. Na maioria dos casos, a
criptorquidia envolve apenas um dos testículos. Quando ambos estão ausentes,
pode estar-se perante um caso de genitália ambígua ou ambiguidade genital,
caracterizada pela indefinição dos carateres sexuais.
Fertilidade
ameaçada
Um testículo cujo percurso até ao
escroto não se cumpriu durante a gestação pode ainda descer após o parto: assim
acontece em cerca de metade dos casos, até ao primeiro ano de vida mas, quase
sempre, nos primeiros seis meses. A partir daí, a situação deve ser corrigida
pois existem várias complicações associadas. A infertilidade é uma delas: a
temperatura do abdómen, mais elevada do que no exterior do corpo, pode inibir a
produção normal de espermatozóides, afectando a sua qualidade. É que as células sexuais masculinas
precisam de uma temperatura inferior para se desenvolverem, o que explica a
localização externa dos seus órgãos produtores.
Outra consequência a não menosprezar
prende-se com o cancro:
um testículo não descido está mais
sujeito ao desenvolvimento de tumores, risco que nunca é completamente
eliminado, mesmo após o tratamento.
De natureza
diferente, mas igualmente importante, é o impacto a nível da imagem e autoestima:
há uma idade, a da adolescência, em que os rapazes tendem a comparar os respetivos
órgãos genitais, facilmente sendo alvo de comentários depreciativos os que
apresentam características diferentes; mais tarde, esta situação pode refletir-se
na vida sexual.
Uma cirurgia
essencial
Dadas as complicações da criptorquidia,
o tratamento é imprescindível, colocando-se duas opções: o recurso a hormonas
para estimular a descida do testículo ou a cirurgia. Este é um procedimento
simples, efetuado sob anestesia geral mas que não costuma requerer internamento.
São feitas duas pequenas incisões - uma na virilha e outra no escroto, de modo
a manipular o testículo até ao seu destino natural. Após a cirurgia, a
recuperação faz-se em casa, sendo que nos primeiros tempos é preciso acautelar
o risco de deslocamento do testículo: assim, há que evitar as brincadeiras que
possam exercer pressão sobre os genitais, nomeadamente andar de triciclo.
Os dois anos são a
idade considerada limite para efetuar esta cirurgia - orquidopexia - de modo a
preservar ao máximo a função do testículo, sobretudo o seu potencial de
fertilidade. Um risco se mantém, no entanto: o de cancro testicular na idade
adulta, pelo que o homem deve submeter-se a vigilância clínica regular.
In Farmácia Saúde, Junho 2008